Leia a entrevista com o perito Laksmanan Sathyavagiswarn, o médico que definiu a morte do cantor Michael Jackson como assassinato.
O trabalho minucioso dos peritos investigadores de crimes foi apresentado aos brasileiros na série norte-americana CSI (Crime Scene Investigation). Na vida real, Laksmanan Sathyavagiswarn faz isso há 36 anos em Los Angeles (EUA).
No escritório em que chefia a perícia e o
departamento de ciência forense, são procuradas as evidências sobre os
1.000 assassinatos que ocorrem na região anualmente. A abrangência
geográfica do trabalho faz com que muitas celebridades do show business
estejam entre estas estatísticas ou envolvidas de alguma forma com as
mortes suspeitas. Ele, acostumado com o assédio da imprensa, ficou
assustado em setembro de 2009, quando assumiu o caso de maior
repercussão da carreira.
A morte do Michael Jackson foi
impressionante. Em dois dias, foram catalogadas duas mil ligações
telefônicas para o meu escritório (o dobro do número de assassinatos que
investiga anualmente).
Na porta do
prédio, as pessoas ficavam aglomeradas em busca de qualquer informação.
Elas ocuparam três quarteirões ao redor do edifício, lembrou o chefe da
perícia de Los Angeles, que esteve São Paulo nesta sexta-feira (22) no
1º Congresso Paulista de Medicina Legal para dividir com os peritos
brasileiros a experiência do caso Michael Jackson.
As evidências reunidas por Sathyavagiswarn na autópsia do cantor embasaram a decisão do júri da Suprema Corte de Los Angeles de condenar o médico de Michael Jackson, Conrad Murray, como assassino culposo (quando não há intenção de matar) do astro.
Após seis semanas de julgamento, a Justiça entendeu que Murray
deu uma dose fatal do sedativo propofol para ajudar o popstar a dormir.
Nos EUA, diferentemente o Brasil, a perícia médica define não apenas a
causa da morte (no caso de Michael Jackson overdose de medicamentos, por exemplo), mas também a circunstância (se foi homicídio, suicídio ou acidente).
Nesta entrevista ao iG Saúde, Laksmanan Sathyavagiswarn
explica as razões que o levaram a creditar o caso como um homicídio, as
dificuldades enfrentadas na investigação e a importância que a
elucidação de crimes tem para a humanidade.
iG: Quais foram os principais pontos que levaram à sua conclusão de que Michael Jackson foi assassinado?
Sathyavagiswarn: Nossas
análises, feitas em 90 dias ? a perícia tem um prazo de ação mais longo
do que a urgência da mídia, um complicador ? identificaram alguns
fatores. As doses de propofol dadas foram extremamente altas e sem razão
aparente. O paciente, mesmo anestesiado, foi deixado sozinho. Os
anestésicos não foram monitorados como era preciso. Além disso, não
havia estrutura de equipamentos suficientes para lidar com doses tão
altas de medicação.
iG: O caso Michael Jackson foi o mais difícil da sua carreira?
Sathyavagiswarn: O caso,
em si, não foi difícil, mas a repercussão foi extremamente complicada.
Em dois dias, mil ligações telefônicas foram catalogadas para o meu
escritório e as pessoas ficavam aglomeradas na porta esperando
informações. Já trabalhávamos com um protocolo de conduta que precisou
ser reforçado.
Os boletins produzidos com as informações
precisavam ter uma linguagem eficiente, que atendesse aos médicos, aos
peritos, à comunidade e à imprensa. Também não seria possível
privilegiar nenhum veículo da mídia. Qualquer informação tinha de ser
universal. Além disso, era preciso cuidar da segurança do nosso
escritório. Os celulares, inclusive dos funcionários, foram proibidos.
Fotografias, nem pensar. Tínhamos que preservar o sigilo. Mas além de
dar respostas, nossa missão era preservar a segurança e a dignidade da
família de Jackson.
iG: Existia receio em deixar o
caso sem respostas? Mesmo definida a circunstância da morte como
assassinato, existe uma espécie de alívio por parte da comunidade e da
família?
Sathyavagiswarn: O
sofrimento dos envolvidos sempre vai fazer parte. Mas não existe nada
pior para um perito do que um caso sem conclusão ou com a causa
indefinida. Trabalhamos diariamente para informar as pessoas, é um
compromisso com a humanidade e também com a saúde pública, porque
algumas mortes (em especial as misteriosas) são provocadas por doenças
que podem se tornar epidemias, caso não controladas.
Comecei a trabalhar há 36 anos e há 20
sou chefe do setor. Tenho alguns casos na minha carreira que estão
fichados como ?indefinidos?. Isso é muito ruim. Mas as tecnologias mais
recentes, ainda bem, nos permitem voltar para essas histórias, mesmo
quando se tratam de casos já fechados. Hoje, por exemplo, sou testemunha
de mortes que ocorreram em 1994. Neste contexto, o DNA foi uma das
conquistas mais importantes. Assim como os exames de sangue que
identificam doenças congênitas por trás de mortes de jovens
aparentemente saudáveis, que morreram de forma misteriosa. Damos essa
resposta à família, que nos aperta as mãos e nos diz muito obrigado.Não
há dinheiro no mundo que pague isso.
Fonte: News Press Release's
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